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Por que o 4 aparece como IIII em relógios com algarismos romanos?

Se você já reparou, vai querer saber o porquê. Mas se nunca reparou, vai se surpreender. De uma forma ou de outra, agora você vai se informar e descobrir com a gente (ou não), por que o número 4 aparece como IIII em alguns relógios famosos ou chiques.

No início de 2012 os jornais de Campo Grande noticiaram uma grande polêmica, que dominou as conversas dos moradores da capital do Mato Grosso do Sul por muitos e muitos dias.

O fato é que um relógio histórico no Centro da cidade foi restaurado pela prefeitura. No entanto, ao reinaugurar o relógio em estilo clássico, com algarismos romanos, surgiu no lugar do número “IV” um símbolo diferente, o “IIII”.

Naquela época já estávamos no auge das redes sociais, e é claro que não demorou a aparecerem diversas manifestações a respeito. Algumas bem-humoradas, outras indignadas, mas quase todas criticando o “erro” da prefeitura.

O pior é que a explicação dada, em meio a tamanha indignação, tomou ares de “desculpa esfarrapada”. O jornal Correio do Estado publicou uma nota da instituição:

A grafia do numeral “4” no relógio despertou a curiosidade de alguns internautas, que publicaram no site de relacionamentos “Facebook” a foto do relógio com o algarismo romano escrito como “IIII”, e não “IV” como todos estamos habituados.

A restauração do relógio se limitou a consertar o maquinário, mantendo sua identidade e arquitetura original. E foi assim que o número 4 foi escrito no relógio em 1933.

As explicações sobre essas duas formas diferentes de grafia variam entre os pesquisadores. O formato “IV” é uma forma mais moderna de se representar o número. Já o “IIII” foi usado no período chamado de “Tempos Modernos”, décadas de 30 e 40, exatamente quando o relógio foi construído.

A resposta da prefeitura não agradou, sobretudo, por carecer de mais informações para embasar o argumento. E, sim, a nota diz a verdade, mas não esclarece muita coisa.

Somente algum tempo depois desse fato inusitado, e por causa dele, olhares curiosos começaram a buscar por todo o Brasil exemplos semelhantes. E muita gente descobriu, ainda que com um atraso de quase um século, que a grafia do algarismo 4 como IIII é bastante comum.

Não está errado, mas por que o 4 aparece como IIII?

Utilizar o número IIII em vez de IV é permitido. Mais do que isso: de certa forma a prática já é tradicional.

Mas para descobrirmos de onde surgiu esse hábito, primeiro vamos saber um pouco mais sobre a origem dos números romanos.

Os algarismos romanos surgiram na… Roma Antiga

Abra alguns livros, procure por algum relógio antigo ou busque alguma lei na internet. Provavelmente, mais cedo ou mais tarde você irá se deparar com os algarismos romanos.

Esse ar pomposo que envolve este tipo de numeração tem sua razão de ser. É que os numerais romanos surgiram durante o Império Romano.

Foi lá que se desenvolveu, dentre tantas outras coisas importantes para a humanidade, esse sistema matemático simples e prático, que revolucionou a forma de contar. Tanto que ele se difundiu rapidamente e perdura até hoje.

O conjunto de algarismos romanos se constitui de 7 letras maiúsculas do alfabeto latino:

I, V, X, L, C, D e M.

Isso você já sabia. O que talvez você não tenha aprendido na escola é o verdadeiro nome de cada número, no original, em romano:

  • I significa unus (um);
  • V significa quinque (cinco);
  • X significa decem (dez);
  • L significa quinquaginta (cinquenta);
  • C significa centum (cem);
  • D significa quingenti (quinhentos);
  • M significa mille (mil).

Mas e quanto a todos os outros números? É justamente aí que reside a genialidade do sistema. Basta ir inserindo algarismos começando pelo maior valor e seguindo duas regrinhas simples:

  1. algarismos com valor menor ou igual posicionados à direita devem ser somados ao algarismo de valor maior;
  2. algarismos com valor menor que estão posicionados à esquerda deverão ser subtraídos do algarismo com valor maior.

E o que isso tem a ver com o 4 que aparece como IIII, e não IV? Tudo! Continue acompanhando que já, já a gente conta a verdade sobre esse “mistério”. Mas, antes, que tal se divertir com duas hipóteses nunca comprovadas, mas ainda levadas a sério por muita gente?

Por Júpiter!

Sabe aquelas teorias da conspiração que não têm nada de verdadeiras, mas a gente tem uma vontade quase incontrolável de acreditar?

Elas são formadas por um conjunto de informações verdadeiras, e a soma de todas elas não é necessariamente verdade, mas cria essa ilusão.

Pois é exatamente assim que funciona o que chamaremos aqui de “Hipótese de Júpiter”. Coincidentemente, as duas letras iniciais do nome do deus romano Júpiter grafado em latim (IVPITER) são os mesmos caracteres do número romano IV.

Aí entra um pouco de criatividade, misturando o cristianismo que vigora nos dias atuais com os cultos gregos e paganismo: para não usar o nome do deus Júpiter “em vão”, alguns romanos optaram por utilizar o IIII em vez do IV.

Isso não explica muita coisa, aparentemente… Por que, então, os relógios, que não existiam no Império Romano, teriam perpetuado este hábito, se é que ele um dia existiu?

Teorias como estas costumam não sobreviver a umas poucas perguntas.

Perdendo a linha

Uma hipótese ainda mais “forçada” também se popularizou, como tantas outras histórias que se espalham como verdadeiras, mas não passam de lendas.

Trata-se da história de um acidente de trem ocorrido na Inglaterra. A data desse suposto fato sempre varia (o que já é mais um indício de que as fontes não são confiáveis).

Diz a lenda que o tal acidente foi causado por um funcionário distraído. Esse pobre rapaz era responsável pelo controle dos horários dos trens. O consenso entre as versões da história é que dois trens acabaram colidindo por uma confusão de horários.

O que varia nessa anedota é a forma como isso teria acontecido. Uns dizem que ele teria visto o reflexo do relógio da estação em uma vidraça (ou no trilho do trem), confundindo IV com VI.

Outros preferem a versão de que ele simplesmente anotou o horário de saída do trem em um papel no início do expediente, e ao conferir a anotação na mesma tarde, autorizou a partida do trem às V horas ao invés das IV horas (o símbolo “I” teria se apagado, ou estava mal escrito), ocasionando a batida com o trem que havia partido de outra estação.

Conta-se que foi a partir daí que os ingleses teriam mudado a numeração para IIII, para evitar novos acidentes. E que, naturalmente, este cuidado tão específico teria se espalhado pelo mundo todo. E você, acredita nessa história?

Enfim a verdade

Já sabemos que a representação de 4h ou 16h nos relógios com algarismos romanos pode ser feita tanto com o IV quanto com o IIII.

Também já conhecemos algumas tentativas de explicar os motivos para essa variação em alguns relógios relativamente raros.

Agora chegou a hora de sabermos, de fato, porque o 4 aparece como IIII em alguns relógios com algarismos romanos.

A verdade tem tudo a ver com algo que já explicamos anteriormente: a origem dos números romanos. Lembra das duas regrinhas simples? Algarismos com valor menor ou igual posicionados à direita devem ser somados ao algarismo de valor maior. Algarismos com valor menor que estão posicionados à esquerda deverão ser subtraídos do algarismo com valor maior.

É assim que conhecemos e foi assim que aprendemos. Só que o que não nos contaram é que o número 4, inicialmente, era escrito de acordo com um método de adição simples, representando a soma de 1+1+1+1.

Somente mais tarde é que os romanos adotaram a grafia IV, baseando-se na fórmula que representa o I subtraído de V (a segunda regrinha simples).

Ou seja: durante muito tempo as duas formas eram utilizadas, deixando resquícios através dos séculos, sendo um deles a numeração dos relógios. Mas porque manter esse costume?

Essa pergunta reflete um sentimento que costuma acontecer com explicações racionais e elegantes. Muita gente se sente frustrada com a falta de elementos dramáticos para temperar o enredo. A boa notícia é que a história não acaba aqui!

Aspecto estético

Já dissemos que o uso do IIII em vez do IV é prerrogativa de relógios “relativamente raros”. Acontece que existe uma espécie de convenção em nível mundial para a utilização desse detalhe em relógios de alto padrão.

Essa convenção leva em consideração o aspecto estético dessa opção. E a explicação mais aceitável por especialistas para esse consenso é o conforto visual, pois os relógios que adotam tal padrão adquirem um visual simétrico.

O uso do número romano IIII faz com que a distribuição dos algarismos I, V e X seja dividida perfeitamente ao redor do relógio. Vejamos:

  • Das 12 horas representadas, as quatro primeiras utilizam o algarismo I (I, II, III e IIII).
  • O segundo terço de horas é composto pelas quatro que contém o algarismo V (V, VI, VII e VIII).
  • As quatro últimas horas são representadas pelo algarismo X (IX, X, XI, XII).

Alguns designers também apontam que, na face de um relógio, o IIII provê mais equilíbrio que o IV em relação ao VIII que aparece no lado oposto.

Para tornar tudo ainda mais equilibrado, também podemos somar os algarismos que aparecem ao todo. Se utilizarmos o IV, serão 17 Is, 5 Vs e 4 Xs, Mas se adotarmos o IIII, teremos 20 Is, 4 Vs e 4 Xs, um conjunto indiscutivelmente mais harmonioso.

Quando você for a São Paulo, observe o relógio da Estação da Luz com atenção. Lembre-se de tudo o que acabou de aprender aqui, comece uma conversa com alguém por lá e conte essas histórias!

Em tempo: você consegue localizar em nosso site algum exemplo de relógio que possui o IIII ao invés do IV? Procure por lá e, se encontrar, conte aqui pra gente!

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